segunda-feira, 2 de junho de 2014

Bichas na Marcha. Marcha nas Bichas.

Estaremos na marcha do orgulho LGBT de Lisboa porque reconhecemos a importância de nos representarmos a nós próprias, com toda a diversidade de expressões, orientações e identidades que temos. Porque todas somos diferentes, todas temos de ser valorizadas, todas merecemos ser reconhecidas e representadas.

Porque existimos. Porque temos orgulho daquilo que somos, não temos vergonha. Porque já chega de sermos silenciadas, desrespeitadas, ignoradas.
Porque sabemos que é preciso continuar a lutar, a festejar e a reivindicar, e que, só assim, é que mudamos a sociedade: existindo. Reconhecemos que as lutas se fazem com visibilidade, na rua, no meio das pessoas, com caras às quais possam associar reivindicações, experiências e vivências.
Porque o armário não nos serve, nunca nos serviu. Porque vivermos vidas anónimas e escondidas não nos traz os reconhecimentos políticos e sociais de que necessitamos.
Porque temos vivências, perspectivas e necessidades específicas que têm de ser reconhecidas, respeitadas e valorizadas.

Porque não nos contentamos com um activismo fracturado. Queremos um activismo intercessional, feminista, queer, trans*, anti-racista, anti-capacitista e pleno.
Porque a austeridade nos prejudica, quando acentua a vulnerabilidade de todas as minorias e também da nossa. Porque sabemos que em climas como o de actual recessão, com a crescente precarização das condições laborais, as pessoas mais vulneráveis (como as pessoas LGBT) são as primeiras a ser afectadas; a ficar sem emprego e sem formas de lidar com a insegurança.
Porque vivemos numa realidade política (tanto a nível nacional com o recente chumbo da co-adopção na Assembleia da Républica, como europeu, com o crescimento assustador de movimentos de extrema direita no Parlamento Europeu) nada inclusiva, nada preocupada com questões de igualdade e de respeito pelos direitos fundamentais.
As Bichas estão na marcha porque ainda sentimos na pele o carácter homofóbico, lesbofóbico, bifóbico e extremamente transfóbico da sociedade actual. Onde as famílias homoparentais não são ainda reconhecidas, onde as pessoas LGBT são ainda vítimas de bullying na escola e no ambiente de trabalho, onde ainda se registam crimes de ódio homofóbicos e transfóbicos, onde as vivências das pessoas LGBT e as expressões não normativas de género e de orientação sexual são ainda silenciadas, desrespeitadas e desvalorizadas. Uma sociedade que ainda nos empurra para os nichos, para os guettos, para o fetiche e para o extremo.

Porque chega desta sociedade insegura para as pessoas LGBT, onde ainda somos obrigadas a viver escondidas e limitadas; com dificuldades acrescidas para atingirmos o nosso potencial, e vivermos vidas felizes e completas.

Por existirmos e resistirmos com orgulho, no dia 21 de Junho estaremos na Marcha do orgulho LGBT de Lisboa.